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sexta-feira, 18 de junho de 2010

ESPERANDO O MAHDI

David Borensztajn


David Borensztajn

O teatrólogo Samuel Beckett esperava Godot. Outros esperam o trem ou a hora de ir para algum destino e o Líder Supremo do Irã, juntamente com o presidente, Mahmoud Ahmadinejad, esperam o Mahdi. Mas, quem é esse personagem do qual tão pouco se ouve falar, seja na mídia televisada ou naquela escrita? Vou tentar resumir de quem se trata, e a razão pela qual é tão ansiosamente aguardado.

O criador do islamismo, Maomé, morreu sem deixar claramente um sucessor, o que provocou um cisma que perdura até hoje, entre xiitas e sunitas.

Os xiitas sustentam que Maomé designou Ali, seu genro, como seu sucessor, argumentando que era impossível que Allah tivesse deixado em aberto a liderança dos seus fiéis e que a possibilidade de uma eleição entre os mesmos poderia escolher uma pessoa errada (será que não gostam da democracia por causa disso?).

Os sunitas, por sua vez, elegeram Abu Bakr, um companheiro de Maomé como califa, que quer dizer sucessor ou mensageiro de Deus. Os sunitas são assim chamados por serem os seguidores das Sunas ou Tradição do Profeta. Ali foi o terceiro sucessor de Abu e os xiitas o consideram o primeiro “Imã” (ou Imame), ungido divinamente e o sucessor masculino do profeta Maomé. Essa denominação tem reflexos até hoje, como veremos.

O final da linhagem direta de Maomé veio com Muhammad-al Mahdi ou Mahdi, o “décimo segundo Imã” ou Imã escondido como também é chamado, e que teria desaparecido ainda criança no funeral de seu pai Hassan al-Askari. Ele teria na verdade apenas se ocultado até o dia de seu retorno, que traria o fim da maldade no mundo. Um dado importante é que sob a ótica dos xiitas o domínio islâmico de todo o mundo se dará com a volta dele, já que possui um conhecimento secreto, passado de imã a imã, vital para a liderança da comunidade. Ou seja, o retorno dessa espécie de messias tornará a todos muçulmanos e a paz reinará no planeta sob a Sharia, a lei islâmica.

Em 2005, ao tomar posse da presidência do Irã, Ahmadinejad declarou sua intenção de apressar a vinda do Imã Mahdi e quem ouviu o discurso dele aqui no Brasil notou que logo no seu início ele agradeceu a Allah e ao 12° Imã! Mas isto passou em branco para a mídia e para a comunidade judaica que parece ignorar ou fingir que ignora os fatos.

Se considerarmos que o Mahdi comandará um exército que reconquistará Israel para o Islã, exterminará os judeus e fará de Jerusalém a capital de onde reinará sobre o mundo todo, teremos um quadro perfeito e acabado da razão pela qual os discursos da liderança iraniana exalam tanto ódio aos judeus e a Israel. Não podemos esquecer, tampouco, o que diz o próprio Corão a respeito dos judeus e já houve quem se desse ao trabalho de comparar o ódio aos judeus do livro sagrado à obra de Hitler (Geert Wilders, o deputado holandês que está sendo processado justamente por isto) e chegou-se à conclusão que Mein Kampf é mais benevolente…

Todas as análises do que vem ocorrendo no Oriente Médio, especialmente em relação a Israel e ao Irã, só falam sob o ângulo da política, da geopolítica, de terras, do pretendido domínio do mundo muçulmano pelos iranianos, sem atentar para o lado religioso que, a meu ver, não pode ser descartado, já que orienta a conduta de seus líderes Ali Khamenei e o seu protegido Ahmadinejad.

Raymond Aron, o famoso jornalista e cientista político francês que deixou uma obra bem vasta, disse em certa ocasião que ao analisarmos o comportamento de um líder “não poderíamos deixar de levar em conta a sua estupidez”. Hoje não podemos por de lado as crenças religiosas de certos líderes que se julgam os mensageiros de um livro e de uma crença. Os atentados suicidas espantam os ocidentais, mas não causam surpresa entre os muçulmanos que crêem que os shaeeds – mártires – vão alcançar o paraíso prometido pelo Corão.

Para um país como o Irã, com um Líder Supremo que já disse para o mundo ouvir que “ainda que morressem 50 milhões de muçulmanos (iranianos) num confronto nuclear, mas que Israel deixasse de existir, o sacrifício teria valido a pena”, devemos necessariamente levar em conta o fator religião, pois só esta explica realmente toda a motivação da política deles e a razão pela qual estão obcecados com a obliteração do Estado Judeu.

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